Será que você sabe o que é crônica mesmo ou confunde o gênero com outros tipos de texto?
A crônica é um gênero textual muito presente em jornais, revistas, portais de internet e blogs. Esse tipo de texto se destaca por abordar aspectos do cotidiano.
Ou seja, questões comuns do nosso dia a dia. Neste artigo, você vai descobrir tudo o que precisa saber sobre a crônica. Confira:
Como você viu, a crônica é um gênero textual que se caracteriza, na temática, por abordar questões do cotidiano. Ela se situa entre o jornalismo e a literatura.
Além da temática que falamos acima, a crônica também se caracteriza por:
Embora as crônicas retratem acontecimentos do dia a dia, elas não têm a finalidade exclusiva de informar. O objetivo da narrativa é, na verdade, provocar uma reflexão sobre o assunto abordado.
Os cronistas costumam identificar aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos pelo restante da sociedade, mas que merecem observação e análise.
🔵 Leia também: Comunicação Social: entenda as diferenças entre as habilitações
Além de ser um gênero entre vários, a crônica também pode ser dividida em diferentes tipos. Conheça as características de cada um deles:
Para fazer uma crônica, você deve, primeiramente, definir o tipo que será usado. Isso porque o texto deve acompanhar as características do formato.
Mas, no geral, as crônicas seguem um roteiro básico, que contém:
Você precisa, portanto, seguir essa estrutura usando o tema da sua escolha. Abaixo, veja algumas dicas úteis de como construir para ajudar a construir uma boa crônica.
🔵 Leia também: 13 filmes sobre profissões que ajudam a escolher a faculdade
Confira três crônicas de grandes cronistas brasileiros:
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me.
Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa. Mas também sou inocente.
A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou. Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si.
A pureza de quem falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta.
Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz a minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
Gente olhando para o céu: não é mais disco voador. Disco voador perdeu o cartaz com tanto satélite beirando o sol e a lua. Olhamos todos para o céu em busca de algo mais sensacional e comovente – o gavião malvado, que mata pombas.
O centro da cidade do Rio de Janeiro retorna assim à contemplação de um drama bem antigo, e há o partido das pombas e o partido do gavião. Os pombistas ou pombeiros (qualquer palavra é melhor que “columbófilo”) querem matar o gavião. Os amigos deste dizem que ele não é malvado tal; na verdade come a sua pombinha com a mesma inocência com que a pomba come seu grão de milho.
Não tomarei partido; admiro a túrgida inocência das pombas e também o lance magnífico em que o gavião se despenca sobre uma delas. Comer pombas é, como diria Saint-Exupéry, “a verdade do gavião”, mas matar um gavião no ar com um belo tiro pode também ser a verdade do caçador.
Que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente o gavião; ao homem, se não houver outro bicho que o mate, pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro homem.
🔵 Leia também: As 10 melhores séries de TV para ajudar na escolha da profissão
Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Rubem Braga, autores dos textos acima, figuram na lista dos principais cronistas do Brasil.
Veja também outros nomes e conheça o estilo literário de cada um deles:
Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 - Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) escreveu diversos gêneros literários.
Obteve grande destaque nas crônicas, contando sobre as sessões parlamentares. Depois, passou a falar sobre o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. Publicou mais de 600 crônicas.
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, Ucrânia, 10 de dezembro de 1920 - Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977), possuía um estilo intimista.
Ela introduziu características novas à literatura nacional e marcou o Modernismo. Suas crônicas eram conhecidas por descrições psicológicas e epifanias.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 – Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) é outro grande nome do Modernismo.
Ela ficou bastante conhecida por suas poesias simbolistas, e trouxe o mesmo tom dos poemas para as crônicas. A morte, o amor, o eterno e o efêmero foram os temas mais retratados.
Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 - Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) é o autor de “A Vida como Ela é”, uma série de contos que foi transmitida em televisão.
O cronista abordava a realidade sem rodeios, apostando, inclusive, no erotismo.
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um dos maiores escritores brasileiros.
Pode-se dizer que o estilo do cronista era libertino e sarcástico.
Vinicius de Moraes, nascido Marcus Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 - Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) fazia crônicas para sobreviver.
Seus textos traziam leveza, senso de humor e lirismo.
Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 - 1 de novembro de 1922), foi um crítico cronista da República Velha no Brasil.
Além do estilo bastante coloquial, suas crônicas eram populares por retratar, principalmente, o tema da exclusão social.
João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1881 - 23 de junho de 1921), ajudou a fundar a crônica moderna.
Seus textos abordavam a paisagem urbana carioca com representações dos diferentes grupos sociais do Rio de Janeiro.
Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 1922 - Rio de Janeiro, 1 de julho de 1991) foi um dos grandes cronistas da sua geração.
Ao trazer poesia para os temas cotidianos, ele atribuiu delicadeza e atemporalidade ao gênero.
Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim, 12 de janeiro de 1913 - Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 1990) dedicou-se exclusivamente às crônicas.
Seu estilo marcado por ironia, lirismo e humor contribui para que ele se tornasse um dos maiores cronistas brasileiros.
E, então, conseguiu tirar suas dúvidas?
Se você vai fazer o Enem ou prestar vestibular, o gênero da crônica pode ser cobrado nos exames. Por isso, não deixe de salvar este conteúdo para estudar!
2023 © BLOG DO EAD | Todos os Direitos Reservados