Quem foi Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil

Postado em 24 de mai de 2022
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Em 1945, formava-se no Paraná a primeira engenheira negra do Brasil.

Enedina Alves Marques estudou Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná, sendo a primeira mulher a se formar em engenharia no estado e a primeira engenheira negra do país.

Ela foi professora e pioneira em sua área de atuação, deixando um legado inspirador para as diversas mulheres que a seguiram.

Neste artigo, vamos conversar sobre a vida inspiradora de Enedina Alves Marques. Confira:

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A trajetória de Enedina Alves Marques

A trajetória de Enedina começa com a chegada de seus pais em Curitiba, em 1910.

Não se tem certeza sobre em qual bairro o casal Paulo Marques e Virgília Alves Marques se instalaram, mas acredita-se que seja no Portão ou no Ahú.

Também não há menções sobre a atividade de Paulo, mas sabe-se que a mãe de Enedina, que era chamada de Dona Duca no bairro, trabalhava como lavadeira.

Enedina Alves Marques nasceu em 1913, três anos depois da mudança dos pais.

Foi na década de 1920 que a vida da menina começaria a mudar, assim que sua mãe conseguiu um emprego na casa do delegado e major Domingos Nascimento Sobrinho.

Por curiosidade, hoje, a casa do delegado, uma construção de madeira com varandas e lambrequins, é a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN.

enedina alves marques 1A casa de Domingos Nascimento Sobrinho atualmente. Fonte: fotografandocuritiba.com.br

Domingos tinha uma filha da mesma idade de Enedina, chamada Isabel. Bebeca, como era conhecida, foi uma menina com acesso à educação desde cedo.

E para que Bebeca não ficasse sozinha na escola, o delegado Domingos pagava para que Enedina estudasse nos mesmos colégios que ela e lhe fizesse companhia.

Dessa forma, Enedina foi alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund entre 1925 e 1926. Depois, ingressou na escola normal, equivalente ao atual ensino médio, e se formou em 1931.

enedina alves marques 2Enedina e suas colegas na formatura da escola normal, em 1931. Fonte: turistoria.com.br

Quando se formou na escola normal, Enedina começou a trabalhar como professora no interior do Paraná entre os anos de 1932 e 1935.

Ela atuou nas seguintes cidades: Rio Negro, São Mateus do Sul, Cerro Azul e Campo Largo.

Depois de atuar no interior do estado, Enedina voltou para Curitiba para cursar o Madureza no Novo Ateneu. Este era um curso intermediário de magistério na época.

Entre 1935 e 1937, época em que estava cursando o Madureza, Enedina morou com a família do Construtor Mathias no bairro Juvevê.

enedina alves marques 3Enedina entre as colegas quando ainda atuava como professora. Fonte: G1.

O construtor e sua esposa, Iracema Caron, receberam Enedina como favor ao parente de Iracema e amigo de Enedina, Jota Caron.

Para pagar sua estadia, embora não tivesse papel como doméstica, Enedina contribuía com serviços da casa. Enquanto isso, ela continuava trabalhando como professora.

Dava aulas no bairro, na Escola de Linha de Tiro e em uma casa alugada em frente ao Colégio Nossa Senhora Menina, onde promovia turmas de alfabetização.

Em 1938, Enedina deu seu primeiro passo em direção à engenharia. Ela começou a fazer o curso complementar em pré-engenharia no Ginásio Paranaense no período noturno.

enedina alves marques 4Enedina com a família do Construtor Mathias. Fonte: Fundação Palmares.

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Como Enedina se tornou engenheira

Depois de ter concluído o curso complementar, Enedina ingressou na faculdade de engenharia da Universidade Federal do Paraná em 1940.

A formatura aconteceu em 1945, e isso consolidou Enedina como a primeira mulher a se formar em engenharia no estado do Paraná e a primeira mulher negra a se formar engenheira no Brasil.

Na turma de Enedina, se formaram mais trinta e dois engenheiros, todos homens e brancos.

Antes dela, apenas outras duas pessoas negras tinham concluído o curso: Otávio Alencar, em 1918, e Nelson José da Rocha, em 1938.

enedina alves marques 5A foto de formatura de Enedina, tirada em 1945. Fonte: noticias.plu7.com

Durante toda a sua formação, Enedina morou na casa do Construtor Mathias e trabalhou como professora. Porém, depois de formada, ela foi exonerada da escola onde atuava e se tornou auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas.

A vida profissional de Enedina foi de bastante luta contra preconceitos, mas também de muita importância e pioneirismo.

Ainda atuando no serviço público, ela foi chefe de hidráulica e chefe da divisão de estatística e do serviço de engenharia do Paraná na Secretaria de Educação e Cultura do Estado.

Por conta disso, ela foi transferida para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica em 1947, trabalhando no Plano Hidrelétrico e no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.

Uma curiosidade interessante sobre o dia a dia de trabalho de Enedina nas obras é, reza a lenda, que ela andava com um revólver na cintura para obrigar os homens ao seu redor a lhe dar atenção.

Diz-se que era muito vaidosa na vida pessoal, mas quando estava nas obras, vestia macacão e dava um tiro para o alto sempre que precisava falar e não era ouvida.

enedina alves marques 6Enedina durante a construção da Usina Capivari-Cachoeira. Fonte: CREA-PR

Dentre as principais obras de Enedina Alves Marques, podemos citar a Usina Capivari-Cachoeira, considerada por muitos como seu maior feito como engenheira, o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba.

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O legado de Enedina Alves Marques

Enedina se aposentou da carreira de engenheira civil em 1962, aos 49 anos.

Ao deixar seu posto, ela recebeu o reconhecimento do governador da época. Por decreto, ele admitiu os feitos de Enedina e lhe garantiu uma aposentadoria equivalente à de um juiz.

Em 1981, aos 68 anos, Enedina Alves Marques veio a falecer.

Ela foi encontrada em seu apartamento depois de ter tido um infarto. Como ela morava sozinha, o corpo foi encontrado aproximadamente uma semana depois de sua morte.

Na época, um jornal popular retratou a morte de Enedina como a de uma idosa excêntrica e não como a de uma engenheira de importância.

Como resposta, membros do Instituto de Engenharia do Paraná protestaram contra e, após isso, diversos artigos ressaltando os feitos de Enedina foram publicados. Ao longo dos anos que se seguiram seu falecimento, Enedina foi homenageada de diversas formas.

Em 1988, ela virou nome de rua no Bairro Cajuru. Em 2006, deu nome ao Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá. Em 2014, houve uma campanha para que o Edifício Teixeira Soares, adquirido pela UFPR, fosse renomeado em sua homenagem.

E em 2019, um trecho da PR-340, entre Cacatu e Cachoeira de Cima, foi denominado Engenheira Enedina Alves Marques.

No que se sabe, Enedina não teve filhos e não tinha parentes próximos. Porém, ela ficará para sempre marcada na história da engenharia brasileira e paranaense. 

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Mariana Bortoletti

Por Mariana Bortoletti

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Mercadóloga, jornalista e especialista em escrita criativa.