100 anos da Semana de Arte Moderna: como o tema pode cair no Enem 2022

Postado em 5 de jan de 2022
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Você sabia que em 2022 comemoramos 100 anos da Semana de Arte Moderna?

Esse evento representou uma verdadeira renovação na arte brasileira, sendo o pontapé inicial para o movimento modernista. A Semana de 22 apresentou novas ideias e conceitos artísticos, tornando-se uma das principais referências culturais do século XX. 

Esse acontecimento aparece de forma frequente no Enem. Mas, com o centenário neste ano, a tendência é que a temática seja ainda mais abordada, ganhando questões nas provas de Linguagens e Ciências Humanas em 2022. 

Quer saber como esse assunto pode ser cobrado no Enem 2022? Fique conosco e descubra tudo sobre a Semana de Arte Moderna!

Confira:

 

O que foi a Semana de Arte Moderna de 1922 

Em 1922, importantes escritores, pintores, arquitetos e músicos brasileiros da época se reuniram para mudar a arte. Inspiradas no cenário de renovação da arte ocidental e nas vanguardas europeias, eles organizaram a Semana de Arte Moderna. 

Como o nome sugere, o evento foi inspirado nas ideias do Modernismo, um movimento artístico do início do século XX. Essa escola artística buscava romper com o tradicionalismo por meio da liberdade estética, da experimentação constante e, principalmente, pela independência cultural do país.

Sendo assim, o objetivo da Semana de Arte Moderna era inserir essas novas tendências de arte no cenário brasileiro, assim como romper com os modelos antigos. Para isso, o evento reuniu artistas de diferentes vertentes – desde a literatura até as artes plásticas – para apresentar suas obras.

A Semana de 22, como também é conhecida, aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922.

O evento foi articulado e organizado pelo escritor Mário de Andrade, o também escritor Oswald de Andrade e o artista plástico Di Cavalcanti.

O intelectual e escritor Graça Aranha abriu o festival, no dia 13, com a palestra “A emoção estética da arte moderna”, recitando versos de Ronald de Carvalho e Guilherme de Almeida, seguido de canções executadas pelo maestro Ernani Braga.

Contudo, o evento atingiu seu auge apenas em 15 de fevereiro, quando o modernismo literário causou indignação e confusão no público. 

O principal marco da data foi a palestra de Mário de Andrade, “A escrava que não é Isaura”, que defendia o abrasileiramento da língua portuguesa.

Durante seu conturbado discurso, Mário precisou berrar para ser ouvido em meio à gritaria. Por isso, decidiu ler seu manifesto na escadaria interna do teatro. Destemido, o poeta urrava para o público a famosa frase que ficou para a posteridade: “os velhos morrerão!”.

Também nesse dia houve um sarau, que contou com a participação de diversos escritores. Nesse dia, Ronald de Carvalho leu o famoso poema “Os Sapos”, de autoria de Manuel Bandeira, que ridicularizava os parnasianos. Confira um trecho:

Os sapos

 

Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

 

Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

— "Meu pai foi à guerra!"

— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".

 

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: — "Meu cancioneiro

É bem martelado.

 

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos!

 

O meu verso é bom

Frumento sem joio

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

 

Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A formas a forma.

 

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas . . .

 

[...]”

 

(Manuel Bandeira)

O evento trouxe definitivamente a arte moderna para a realidade cultural brasileira. E sua influência é sentida até hoje na criação artística nacional.

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Contexto histórico

Até o início do século XX, a principal escola artística no Brasil era o Parnasianismo

Essa tendência estética se caracteriza pelo rigor formal, pela proposta da “arte pela arte”, pelo academicismo e elevada erudição, especialmente na poesia. Como a grande maioria das escolas estéticas, o Parnasianismo foi importado da Europa. 

Contudo, no continente europeu, outra proposta artística vinha ganhando força e se consolidando: o modernismo. 

As grandes reviravoltas da Revolução Industrial e o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) instituíram uma nova maneira de viver, modificando completamente as relações humanas. A luz elétrica e a rapidez dos automóveis e das produções fabris em larga escala transformaram a sociedade. E a arte precisava acompanhar essas mudanças. 

Assim, surgiram as vanguardas artísticas e, com elas, a consolidação da modernidade no âmbito da arte.

Essas mudanças também começaram a chegar no Brasil. Com a instalação das primeiras indústrias na cidade de São Paulo, o país passou a se transformar e modernizar.

Frente a essas novas configurações sociais e econômicas, o Brasil também precisava de um novo olhar artístico, sociocultural e filosófico que propusesse uma arte nacional original e atualizada. Além disso, 1922 marcou o centenário da Independência do Brasil, o que tornava ainda mais urgente essas mudanças. 

Era o cenário ideal para a renovação artística nacional, e a Semana de Arte Moderna foi o primeiro passo para a ruptura com os modelos anteriormente estabelecidos.

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Principais características da Semana de 22

A Semana de Arte Moderna buscou revolucionar a arte brasileira. 

Para isso, os artistas envolvidos não hesitaram em surpreender o público, que ainda estava apegado aos tradicionais padrões europeus e preso ao conservadorismo parnasiano da arte.

Nesse sentido, podemos dizer que as principais características do evento foram:

  • Experiências estéticas;
  • Crítica ao movimento literário parnasiano, então em voga;
  • Fim de composições formais;
  • Liberdade de expressão;
  • Abordagem do dia a dia brasileiro;
  • Abandono dos padrões da Academia;
  • Uso de linguagem coloquial e vulgar para se aproximar da falada;
  • Valorização do nacionalismo por meio de temáticas nacionais;
  • Inspiração em vanguardas europeias (dadaísmo, expressionismo, futurismo, surrealismo, cubismo etc.).
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Os principais artistas da Semana de Arte Moderna 

A Semana de Arte Moderna reuniu diversos artistas. Confira alguns dos principais nomes:

  • Mário de Andrade (1893-1945)
  • Oswald de Andrade (1890-1954)
  • Graça Aranha (1868-1931)
  • Victor Brecheret (1894-1955)
  • Plínio Salgado (1895-1975)
  • Anita Malfatti (1889-1964)
  • Menotti Del Picchia (1892-1988)
  • Ronald de Carvalho (1893-1935)
  • Guilherme de Almeida (1890-1969)
  • Sérgio Milliet (1898-1966)
  • Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
  • Tácito de Almeida (1889-1940)
  • Di Cavalcanti (1897- 1976)
  • Guiomar Novaes (1894-1979)
  • Zina Aita (1900-1967)
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O legado da Semana de Arte Moderna 

O Modernismo inaugurado pela Semana de Arte Moderna não foi aclamado pela crítica. Muito pelo contrário, os principais críticos do país tinham muita resistência a essa nova tendência estética e ainda apoiavam o Parnasianismo. 

Por isso, a Semana de 22 não teve grande repercussão nacional. Na época, nem os jornais  deram atenção, dedicando apenas pequenas colunas de suas páginas ao evento.

Foi com o passar do tempo que a Semana de Arte Moderna alcançou importância histórica. Seus efeitos começaram a ser percebidos no decorrer de toda a década de 1920 e romperam a década de 1930, influenciando toda a arte brasileira, especialmente a literatura, ao longo do século XX. 

Em uma conferência realizada em 1942, em comemoração aos 20 anos da Semana, Mário de Andrade declarou que “o Modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a inteligência nacional”.

Atualmente, grande parte do que é feito hoje no Brasil –  tanto nas artes plásticas quanto na música – está, de certa forma, relacionada ao Modernismo e Semana de 22.

100 anos da semana de arte moderna

Como os 100 anos da Semana de Arte Moderna pode cair no Enem 2022

Agora que você já conhece um pouco mais sobre o que foi a Semana de Arte Moderna pode estar se perguntando: como esse conteúdo pode aparecer no Enem 2022?

É bem provável que os conhecimentos sobre Semana de 22 sejam cobrados nas provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias, como nas questões de História.

Conhecendo o perfil das questões do Enem, as causas, as consequências e o contexto histórico desse evento são os principais pontos que merecem atenção nos estudos. 

Ou seja, não vale a pena decorar o nome dos artistas que participaram ou de suas obras. 

O mais importante aqui é ter um entendimento profundo desse acontecimento, tendo a capacidade de estabelecer relações com outros movimentos artísticos e de situá-lo na história. 

No tópico a seguir, trazemos alguns exemplos de questões para exemplificar. Continue conosco!

Questões do Enem sobre a Semana de Arte Moderna (com gabarito) 

(Enem 2012)

O trovador

Sentimentos em mim do asperamente

dos homens das primeiras eras...

As primaveras do sarcasmo

intermitentemente no meu coração arlequinal...

Intermitentemente...

Outras vezes é um doente, um frio

na minha alma doente como um longo som redondo...

Cantabona! Cantabona!

Dlorom...

Sou um tupi tangendo um alaúde!

ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade.

Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é

a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal”, que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.

b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.

c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).

d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.

e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas

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(ENEM 2010) Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas modernistas:

a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais

b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional

c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática educativa

d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada a tradição acadêmica

e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados

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(ENEM 2010) O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a

a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.
b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.
c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.
d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.
e) forma apresenta contornos e detalhes humanos.

Gabarito: 1 - D, 2 - A, 3 - B

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Mariana Moraes

Por Mariana Moraes

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